A história da Deep web

Quando falamos em Deep Web e Dark Web, é comum que muitas pessoas pensem automaticamente em atividades ilegais ou em conteúdos assustadores. Mas, será que esses conceitos são de fato compreendidos? Neste artigo, vamos explorar como essas redes surgiram, traçando a sua história, as inovações que as moldaram e os principais marcos dessa evolução.

O que é a Deep Web?

A Deep Web inclui todas as partes da internet que não são indexadas pelos motores de busca, como Google e Bing. Isso significa que elas não aparecem em resultados de pesquisa e só podem ser acessadas por métodos específicos.

No entanto, diferente do que muitos acreditam, a Deep Web não é sinônimo de ilegalidade. Ela abriga serviços e conteúdos essencialmente úteis e cotidianos, como:

  • E-mails privados;
  • Internet banking;
  • Redes corporativas;
  • Bases de dados acadêmicas.

Se você usa algum desses serviços, está navegando pela Deep Web sem nem perceber.

Deep Web x Dark Web: Qual a diferença?

A Dark Web é uma pequena parte da Deep Web, mas carrega uma reputação muito mais carregada. Ela é a seção que abriga, de fato, atividades ilegais, como o comércio de drogas e a pirataria.

Enquanto a maior parte da Deep Web é composta por sistemas seguros e necessários, a Dark Web é diretamente associada ao sigilo extremo e à anonimidade, o que pode tornar esse ambiente propício para crimes.

O que é a Surface Web?

A Surface Web é o pedaço da internet que usamos diariamente — o lado visível do iceberg. São todos os sites e conteúdos que podem ser encontrados facilmente nos buscadores. Porém, ela representa apenas a sua ponta. O restante, aquele conteúdo não indexado e invisível, está na Deep Web.

Os primórdios da internet e o surgimento das Darknets

A história da Deep Web remonta ao início da internet, nos anos 70, com a criação da ARPANET, um projeto militar dos Estados Unidos que acabou se tornando a base da internet moderna.

Embora inicialmente criada para conectar laboratórios, bases militares e universidades, já existiam “darknets” — redes privadas para guardar informações sigilosas. Essas conexões eram inacessíveis ao público e formavam o que conhecemos como a fundação da Deep Web.

A evolução na busca por privacidade

Conforme a internet se popularizou nos anos 80, o desejo de ter conexões privadas também começou a crescer. Servidores em locais com leis mais flexíveis, como paraísos fiscais, tornaram-se uma solução para quem buscava esconder conteúdos.

No entanto, foi nos anos 90, com o uso comercial da internet em expansão, que surgiram as primeiras iniciativas para criar rede anônimas mais robustas. Ferramentas como o Tor Browser começaram a ganhar forma.

O nascimento do Tor Browser

O Tor (“The Onion Router”) surgiu na década de 1990, criado por cientistas do Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA. Ele foi inicialmente desenvolvido para operações secretas, criptografando mensagens através de vários servidores em camadas, daí o nome “roteamento cebola”.

Quando uma mensagem é enviada pelo Tor, cada servidor adiciona sua própria camada de criptografia. No final, somente quem recebe a mensagem de forma completa pode decodificá-la.

Além disso, os sites acessados pelo Tor têm o domínio final “.onion”, o que os diferencia dos sites tradicionais. Em 2002, a ferramenta foi liberada para uso civil, e, até hoje, é mantida como um projeto open-source pelo “Tor Project”.

Freenet e a descentralização dos dados

Outro marco importante na história da Deep Web foi o desenvolvimento do Freenet por Ian Clarke em 1999. O sistema descentralizado permitia o armazenamento e a troca de dados de forma anônima, utilizando a máquina dos próprios usuários para guardar informações criptografadas sem que eles soubessem seu conteúdo.

Esse sistema era ideal para usuários de países com censura na internet ou para iniciativas de denúncia, sendo ainda hoje uma das ferramentas pioneiras na busca por uma rede livre e descentralizada.

I2P: Mais segurança e novas possibilidades

Em 2003, nasceu o I2P (Invisible Internet Project), uma alternativa similar ao Tor, mas com algumas diferenças técnicas. Ele se destacou principalmente em locais onde as leis contra pirataria eram mais rígidas, funcionando como uma ferramenta popular para compartilhamento de arquivos via torrent.

Hospedagem em territórios “sem leis”

Nos anos 90 e 2000, outra prática comum era hospedar servidores em territórios conhecidos por leis permissivas. Ilhas caribenhas e até micro-nações, como o Principado de Sealand, tornaram-se refúgios para conteúdos que precisavam evitar penalizações legais.

Sealand, por exemplo, que fica em uma base naval abandonada perto da Inglaterra, chegou a ser uma das promessas para hospedar qualquer tipo de serviço. No entanto, atividades ilegais e disputas internas levaram ao fim desses projetos por volta de 2008.

O impacto do Bitcoin e das criptomoedas

A introdução do Bitcoin em 2008 revolucionou as transações na Dark Web. Essa moeda digital, criada por Satoshi Nakamoto, conquistou o espaço como método de pagamento preferido em marketplaces ilegais pela dificuldade de rastrear sua origem.

Transações envolvendo drogas, armas e outros serviços ilícitos começaram a ser realizadas, cimentando a relação entre criptomoedas e o lado obscuro da internet.

O mito da Mariana’s Web

Um dos boatos mais populares sobre a Deep Web é a tal Mariana’s Web, um suposto nível “mais profundo e sombrio” da internet. Porém, isso não passa de uma lenda digital. Não existe nada além do que já entendemos sobre a Surface, Deep e Dark Web.

A Silk Road e o crescimento dos marketplaces underground

A Dark Web ganhou notoriedade em 2011 com a criação da Silk Road, um marketplace clandestino que comercializava principalmente drogas e medicamentos sob prescrição. Seu criador, conhecido como “Dread Pirate Roberts”, foi preso em 2013.

Mesmo após a queda da Silk Road, plataformas similares continuaram a surgir, embora nenhuma tenha alcançado o mesmo impacto.

A importância da Deep Web para a liberdade de expressão

Embora muitas vezes associada ao crime, a Deep Web também desempenha um papel vital na proteção da privacidade e da liberdade de expressão. Jornalistas, ativistas e denunciantes muitas vezes utilizam essas redes para compartilhar informações sem medo de represálias.

Exemplo disso foi o WikiLeaks, que recebeu grande parte de suas informações através da Deep Web, permitindo revelações sobre governos e corporações.

Cuidados ao acessar a Deep Web

Entrar na Deep ou Dark Web não é como visitar um site comum. É necessário tomar várias precauções, como o uso de VPNs, navegadores específicos e atenção redobrada para evitar cair em golpes ou se expor a conteúdos perigosos.

Existem vários hackers e grupos mal-intencionados esperando por usuários despreparados, o que pode transformar a curiosidade em uma experiência nada agradável.

Conclusão

A Deep Web e a Dark Web são partes intrigantes da história da internet. Embora carregadas de controvérsias e mistérios, elas também simbolizam inovação, privacidade e os desafios éticos que vêm com a conectividade digital.

Se por um lado apresentam um mundo perigoso, por outro oferecem possibilidades legítimas e necessárias. Entender essas redes é um passo importante para navegar com segurança e consciência.

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