Hoje, é difícil imaginar nossas noites sem a Netflix. Muitos cancelaram a TV a cabo, maratonam séries nos finais de semana e aproveitam suas produções originais. Mas você já parou para pensar como essa empresa começou? Apesar de jovem, a Netflix tem uma história cheia de reviravoltas. Vamos mergulhar em sua trajetória e entender como ela mudou o cinema, a TV e a internet.
Como tudo começou
A Netflix foi fundada em 1997 em Scotts Valley, Califórnia, por Reed Hastings e Marc Randolph. Hastings, nascido em Boston, tem formação em matemática e um mestrado em inteligência artificial. Já Randolph era especialista em publicidade e vendas, com experiências em empresas como MicroWarehouse. Os dois se conheceram em um negócio anterior, onde Hastings era o chefe e Randolph, vice-presidente.
A história popular de que Hastings fundou a Netflix após pagar uma multa de US$ 40 ao devolver um filme atrasado na locadora é, na verdade, um mito. A ideia de mercado por trás da empresa foi muito mais complexa, envolvendo extensas pesquisas e estratégias.
Primeiros passos: DVDs por entrega
O conceito inicial da Netflix era simples: um serviço de aluguel de filmes por correspondência, onde os clientes faziam pedidos pela internet e recebiam os DVDs em suas casas. No início, chegaram a testar fitas VHS, mas elas eram frágeis e caras. Com os DVDs ganhando força nos EUA, esse formato se mostrou perfeito por ser compacto e resistente.
Em abril de 1998, a Netflix entrou em operação. Bastava acessar o site, selecionar os filmes e aguardar a entrega. Após assistir, o motoboy passava para buscar os discos — sem taxas de atraso. Esse sistema inicial funcionava com pagamentos por aluguel unitário.
Em 1999, tudo mudou. A empresa adotou o modelo de assinatura mensal, permitindo que os clientes alugassem quantos DVDs quisessem em troca de uma taxa fixa. Sem multa de atraso. Essa inovação rapidamente atraiu milhares de pessoas e deu à Netflix uma receita estável.
Duas grandes recusas
No início, a Netflix passou por momentos difíceis. Em 1998, os fundadores recusaram uma oferta de compra da Amazon por US$ 12 milhões. Anos depois, veriam a Amazon competir diretamente com o Prime Video.
Outro episódio curioso aconteceu em 2000, quando a Netflix tentou se vender à Blockbuster, líder do mercado de locação de vídeos na época, por US$ 50 milhões. A Blockbuster não viu potencial no mercado online e declinou a oferta. Olhando para o cenário atual, sabemos quem realmente saiu perdendo.
Crescimento e mudança de comando
Ainda sem lucratividade no começo, a Netflix persistiu. Em 2002, Marc Randolph deixou o cargo de CEO e passou o bastão para Reed Hastings, que era mais focado no longo prazo. Randolph já revelou que prefere trabalhar no início das empresas, no que ele chama de “fase startup”.
No mesmo ano, a Netflix abriu seu capital na Bolsa de Valores. Com o dinheiro arrecadado, atingiu a marca de 1 milhão de assinantes em 2003. A partir daí, o crescimento foi constante.
A chegada do streaming
Até 2007, a Netflix era conhecida como uma locadora de DVDs via correio. Mas esse ano marcou o início de sua maior revolução: o streaming de vídeos. Com a melhoria da largura de banda e do acesso à internet, o modelo começou a fazer sentido.
Em paralelo, a empresa registrou um impressionante marco de 1 bilhão de DVDs alugados. Porém, os discos começaram a perder espaço. Ainda nesse período, a Netflix lançou um concurso para aprimorar seu algoritmo de recomendação, prometendo pagar US$ 1 milhão à melhor proposta. O vencedor melhorou em 10% as recomendações do sistema, mas o custo da implementação acabou sendo alto demais, e a mudança nunca foi aplicada.
Expansão internacional
A partir de 2010, a Netflix começou a ultrapassar fronteiras. O Canadá foi o primeiro país fora dos Estados Unidos a receber o serviço. Hoje, a Netflix está disponível em mais de 190 países, com algumas exceções como China, Coreia do Norte, Síria e Crimeia, devido a restrições de governo.
No Brasil, a chegada aconteceu em 5 de setembro de 2011. Por aqui, a empresa conquistou o público rapidamente, utilizando as redes sociais de forma criativa e campanhas publicitárias com celebridades como Xuxa e Fábio Jr. Em 2015, a receita da Netflix no Brasil ultrapassou R$ 1,1 bilhão, superando emissoras nacionais tradicionais.
O erro do Qwikster
Entre os maiores tropeços da Netflix está a tentativa de separar os serviços de streaming e DVDs em 2011. O serviço de DVDs foi renomeado para “Qwikster”, enquanto a Netflix ficaria apenas com o streaming. Isso significava assinaturas separadas e preços mais altos, algo que gerou revolta entre os clientes. A decisão foi tão mal recebida que a divisão não durou nem um mês. Hastings fez um pedido público de desculpas e voltou atrás com a estratégia.
Essa reação do público mostrou à Netflix a importância de ouvir seus clientes, algo que a empresa usa até hoje para moldar suas decisões.
Apostas em produções originais
2012 marcou a estreia de “Lilyhammer”, a primeira série original distribuída pela Netflix. Mas o grande marco veio em 2013, com “House of Cards”. A empresa investiu cerca de US$ 100 milhões nas duas primeiras temporadas. O sucesso foi instantâneo, colocando a Netflix no mapa das grandes produtoras de séries. “House of Cards” recebeu indicações ao Emmy e ao Globo de Ouro, incluindo prêmios importantes.
Desde então, a Netflix tem apostado pesado em originais. Séries como “Stranger Things” e “The Crown” se tornaram fenômenos globais. Além disso, a empresa ficou conhecida por salvar séries canceladas, como “Arrested Development” e “Gilmore Girls”, atendendo ao clamor dos fãs.
Ainda em 2016, a Netflix atendeu um pedido antigo dos usuários: a opção de fazer download de conteúdos para assistir offline.
O impacto e o futuro da Netflix
A Netflix não apenas reformulou a forma como consumimos entretenimento, mas também forçou gigantes do mercado a reagirem. Hoje, empresas como HBO e Disney criaram suas próprias plataformas de streaming, dificultando a negociação de conteúdos licenciados. Isso levou a Netflix a redobrar seu foco em conteúdos próprios.
Mas nem tudo são flores. A ausência de filmes originais da Netflix nos cinemas gerou polêmica, sendo inclusive vaiada no Festival de Cannes em 2017. Além disso, a empresa é forte defensora da neutralidade da rede, combatendo práticas de provedores que poderiam limitar a velocidade de usuários que passassem muito tempo no streaming.
Conclusão
A história da Netflix é uma aula sobre visão, resiliência e adaptação. O que começou como uma simples locadora de DVDs se transformou no maior serviço de streaming do mundo. Sua capacidade de inovar, ouvir os usuários e se manter à frente das tendências garantiu seu lugar no topo do mercado de entretenimento.